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França/Legislativas: "Segundo mandato de Macron vai ser marcado pela negociação contínua"

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Último dia de campanha para a segunda volta das eleições legislativas francesas, que vai decorrer no próximo domingo. Em jogo está a manutenção, ou perda, da maioria do Presidente Emmanuel Macron na Assembleia Nacional nos próximos cinco anos.

Assembleia Nacional francesa.
Assembleia Nacional francesa. © RFI
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Os resultados nacionais da primeira volta colocaram lado a lado a coligação “Ensemble” do presidente Macron e a esquerda unida na coligação Nova União Popular Ecologista e Social, liderada por Jean-Luc-Mélenchon.

De acordo com as últimas sondagens, o partido presidencial obtém entre 265 e 300 assentos na Assembleia Nacional, contra 180 a 210 para a união das esquerdas. Além disso, o partido de extrema-direita União Nacional de Marine Le Pen deverá conseguir eleger 20 a 30 candidatos, o que lhe vai permitir constituir um grupo parlamentar. A maioria absoluta na Assembleia Nacional Francesa é obtida com 289 lugares.

Para Dejanirah Couto, investigadora da Escola Prática dos Altos Estudos de Paris, este sufrágio vai alterar o xadrez político francês na Assembleia Nacional e ditar um segundo mandato difícil, de negociação permanente para Emmanuel Macron. Todavia, a segunda volta das legislativas, na visão da investigadora, à semelhança da primeira volta, deve ficar marcada por uma forte abstenção.

"Infelizmente creio que o que vamos poder esperar desta segunda volta das legislativas é, como no seguimento da primeira volta, uma taxa de abstenção muito elevada. Talvez ligeiramente menos elevada do que na primeira volta, porque, como sabemos, a taxa foi efectivamente enorme. Vão existir alguns reagrupamentos políticos, entre os diversos partidos para fazer, barreira à extrema-direita, na medida em que a direita clássica está, mais ou menos, eliminada. 

Temo que a taxa de abstenção ainda assim seja bastante elevada, porque o eleitorado está bastante desmotivado. Por conseguinte, creio que é isso que vamos verificar nas eleições do domingo"

Mas o facto de na primeira volta os resultados terem colocado ‘taco a taco’ a esquerda unida e as forças políticas à volta do Presidente, não faz com que possa haver o contrário, ou seja, mais mobilização para esta segunda volta?

"Parece-me que a sua análise é bastante correcta teoricamente, porque o problema central é que estas eleições (voltando atrás às presidenciais) foram já levadas a cabo num clima de grande desinvestimento da sociedade civil em relação ao que estava em jogo. Quer dizer, a continuidade de um mandato político sem grandes rupturas ou praticamente sem ruptura do ponto de vista institucional e com pequenas rupturas do ponto de vista das reformas que podem ser levadas a cabo. Mas, realmente, desde as presidenciais o clima geral é de bastante desinvestimento. 

Eu temo que essa espécie de sobressalto que deveria ocorrer para evitar uma polarização e um impacto que vai obrigar à Assembleia a um jogo muito mais subtil ou muito mais sofisticado, conforme as opiniões que tivermos, para levar a cabo um certo número de reformas no novo mandato do Presidente. Temo que esta situação se prolongue e que isso leve a que o Presidente não consiga efectivamente ter a maioria presidencial".

É necessário relembrar aqui que as tendências que temos, são tendências nacionais, na verdade este xadrez político, as peças que compõem este xadrez, decidem-se nos círculos eleitorais distritais que podem, ou não, reflectir esta tendência nacional. 

"Sem dúvida. Há aqui um problema de xadrez eleitoral a nível local. Até que ponto é que este panorama vai ser radicalmente modificado, eu sou um pouco céptica. Dito isto, penso que se vai assistir a uma recomposição interessante na Assembleia Nacional.

A extrema-direita de Marine Le Pen vai, sem dúvida, aumentar seu número de deputados e constituir o seu próprio grupo parlamentar dentro da Assembleia". 

Esta perda quase garantida da maioria absoluta do presidente Macron, significa o quê? É um cartão vermelho da sociedade às políticas do presidente?

"Eu acho que o cartão vermelho da sociedade civil, não está bem na questão da não-obtenção da maioria, está na taxa de abstenção. A taxa de abstenção tem vindo a aumentar ao longo do tempo. 

O que é que isto vai significar em termos do exercício presidencial? Penso que Macron vai ser obrigado a estabelecer um maior número de alianças.

Sobretudo, vejo este cartão mais como um cartão vermelho não da sociedade por si, mas um cartão vermelho dos partidos políticos, dos corpos institucionais, dos corpos políticos que estão a avisar efectivamente o presidente que se entra numa fase em que as reformas que não foram levadas a cabo no primeiro mandato, têm que ser absolutamente levadas a cabo neste segundo mandato".

Mesmo que o presidente Macron, com a sua coligação “Ensemble”, consiga esta maioria absoluta, que para já está afastada das tendências, ele próprio, nos próximos cinco anos, continua a ter que negociar porque não concorre sozinho a estas eleições. Vai com o movimento do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe e, também, com o Modem de François Bayrou. Mesmo que tenha uma maioria absoluta, a tarefa de Emmanuel Macron é complexa.

"Completamente. Quer dizer ele vai entrar numa nova dinâmica política que não foi necessária nas eleições precedentes. Aqui o novo mandato, penso, vai ser marcado por uma negociação contínua e por coligações, por vezes, um pouco complicadas e que escaparão mesmo uma parte do seu eleitorado mais fiel. Ele não vai estar em posição de levar a sua política a cabo a 100% sem entrar nessa dinâmica de negociação. Portanto, este segundo mandato vai ser marcado por negociação contínua e vai ser muito laborioso.

Isto reserva grandes surpresas. A dinâmica vai ser a de negociação perpétua. Está aqui também uma série de recomposições a nível regional e a nível local que vão mostrar que as necessidades de negociação e de possíveis coligações vão ter lugar".

A possibilidade de Jean-Luc Mélenchon chegar a primeiro-ministro está completamente fora de questão?

"Penso que sim! Jean-Luc Mélenchon, como todos sabemos, é um excelente tribuno, é um orador de extraordinária classe capaz de convencer. Mélenchon é adepto do discurso contínuo. E portanto há todo um segmento da direita clássica política que se reconfigurou e que está agora bastante enfraquecida mas que não deixa de votar, apesar disso.

Se Mélenchon se tornasse primeiro-ministro seria verdadeiramente uma catástrofe para o centro. Portanto, não creio que essa hipótese, que foi levantada, em termos políticos possa ter qualquer viabilidade. Quer dizer, seria um golpe de póquer absolutamente extraordinário da parte de Emmanuel Macron, mas que iria criar uma grande confusão política sobretudo para os segmentos da direita clássica e obviamente também para o partido de Marine Le Pen, porque isso seria ainda aumentar muitíssimo mais a fractura política entre o partido presidente e todas as outras forças eleitorais que não são forçosamente simpatizantes de Mélenchon".

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