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Atentados de 13 de Novembro: Sophie Dias denuncia “abandono” do governo

Em Paris, esta terça-feira, começaram a ser ouvidos sobreviventes e familiares das vítimas dos atentados de 13 de Novembro de 2015. Hoje, as atenções concentram-se no Stade de France, em Saint-Denis, onde morreu Manuel Dias. Na audiência, a sua filha, Sophie Dias, prometeu que vai “lutar para que não esqueçam Manuel Dias”, apontou as falhas das autoridades e lamentou o abandono por parte do governo, nomeadamente a ausência do Presidente Emmanuel Macron.

Palais de Justice de Paris. 8 de Setembro de 2021.
Palais de Justice de Paris. 8 de Setembro de 2021. AFP - ALAIN JOCARD
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Audiência das vítimas dos atentados de 13 de Novembro de 2015

Em Paris, esta terça-feira, começou uma das fases mais difíceis do julgamento dos atentados de 13 de Novembro de 2015, com os sobreviventes e familiares das vítimas a começarem a prestar declarações.

Hoje, as atenções concentram-se no Stade de France, em Saint-Denis, onde morreu Manuel Dias. Na audiência, a sua filha, Sophie Dias, apontou as falhas das autoridades e lamentou o abandono por parte do governo, nomeadamente a ausência do Presidente Emmanuel Macron nas cerimónias de homenagem.

Foi um testemunho em que a saudade do pai não toldou as críticas às autoridades francesas. Sophie Dias fez questão de avisar que vai “lutar para que não esqueçam Manuel Dias”, o seu pai, que morreu nos ataques em Saint-Denis. E sublinhou, com a voz mais elevada, que o pai “não era um simples transeunte como os media disseram nos últimos dias”.

A jovem, de 39 anos, lembrou o pai, “o pilar da família”, inseparável dos filhos e da esposa. Sophie recordou a luta que foi para conseguir ter notícias dele na noite de 13 de Novembro, denunciou que o número de emergência para os atentados não funciona a partir do estrangeiro e sublinhou que foi o Consulado de Portugal em Paris que lhe confirmou a morte do pai quando as autoridades francesas continuavam a dizer que “ele não estava na lista de vítimas e que era um bom sinal”.

Sophie Dias também falou no abandono pela parte do governo francês, disse ser desumano ter de sofrer tantas perícias técnicas cinco anos depois para aceder às ajudas para as vítimas de terrorismo e lamentou que o Presidente da República não esteja com as vítimas nas cerimónias de 13 de Novembro. Uma crítica que repetiu à RFI, à saída da audiência.

“O Presidente Hollande estava presente no Stade de France, depois disso encontrámo-lo várias vezes e ele realmente sempre teve a maior simpatia e compreensão por nós. Desde a chegada do novo Presidente, nas últimas cerimónias não esteve presente, já não vai estar, tem outros colaboradores que estão presentes. Para nós é também uma forma de esquecerem um pouco, e talvez voluntariamente, quem sabe, aquilo que aconteceu”, considerou.

Questionada sobre se acha que o Presidente Emmanuel Macron poderia estar presente nas cerimónias deste ano, um ano pré-eleitoral, a resposta foi imediata: É provável.”

(Pode ouvir aqui a entrevista de Sophie Dias antes da audiência desta terça-feira)

Sophie Dias agradeceu ainda os guardas que lhe deram informações sobre o pai e que falaram, no tribunal, antes dela. Todos eles estavam na mesma rua, sofreram o mesmo ataque e todos deixaram críticas aos seus superiores hierárquicos pela falta de ajuda, empatia e reconhecimento.

Entre silêncios, vozes embargadas e emoção, dos seis que testemunharam, cinco não retiveram as lágrimas. Todos pediram à imprensa para não divulgarem os apelidos. Philippe pediu desculpa a Sophie por lembrar a cena da primeira explosão, de onde estava a cerca de vinte metros. Uma cena que, disse, persegui-lo até hoje, mas garantiu que fez “o melhor que podia”.

Pierre sublinhou que nessa noite, no Stade de France, os terroristas não se limitaram a matar Manuel Dias, também atacaram e destruíram famílias inteiras e disse que “há um antes e um depois do 13 de Novembro para quem esteve lá” e que ainda não o conseguiu superar.

O mais jovem, Renaud, lamentou a falta de acompanhamento e ajuda e disse que deixaram a brigada continuar a trabalhar apesar do stress pós-traumático que os atingiu a todos.

Entre muitos silêncios e um longo relato, Jonathan falou da sua “ferida psicológica” e da sua equipa, sublinhou a dificuldade e a solidão que sentiu por ver os seus militares sem baixas médicas nem ajuda praticamente nenhuma. O comandante contou também que na noite de 13 de Novembro desobedeceu aos seus superiores que lhe ordenavam que fosse para casa, mas ele não pôde “abandonar os feridos” porque o número de efectivos era insuficiente. Jonathan contou ainda que, nessa noite, estava a 25 metros da primeira explosão e a 120 da segunda, e que foi um “momento de sideração”, entre “os aplausos e os gritos de alegria do público dentro do estádio” e a cena que viu do lado de fora. "Um momento de vida e de morte” que ainda hoje o persegue, resumiu. Dos seis guardas que prestaram declarações, três já não exercem a profissão.

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