Acesso ao principal conteúdo
#Atentados de 13 de Novembro de 2015

Atentados de Paris: Salah Abdeslam diz que não é "um perigo para a sociedade”

Salah Abdeslam, o único elemento ainda vivo dos que perpetraram os atentados de 13 de Novembro de 2015, afirmou, esta quarta-feira, em tribunal, que “não é um perigo para a sociedade” e negou ter matado ou ferido alguém, ainda que tenha repetido ser “um combatente do Estado Islâmico”. Pela primeira vez, o arguido disse que “fez marcha atrás” e que, nessa noite, desistiu de activar o colete de explosivos. Os ataques de há seis anos fizeram 130 mortos e mais de 350 feridos.

Salah Abdeslam, 9 de Fevereiro de 2022, Paris.
Salah Abdeslam, 9 de Fevereiro de 2022, Paris. AFP - BENOIT PEYRUCQ
Publicidade

Foram sete horas de audiência esta quarta-feira centradas no testemunho de Salah Abdeslam, o único elemento ainda vivo dos que perpetraram os atentados de 13 de Novembro de 2015.

Vestido de branco - ao contrário do primeiro dia quando surgiu todo vestido de preto e a descrever-se como "combatente do Estado Islâmico" - Salah Abdeslam começou por fazer o que chamou de “declaração espontânea”.

O francês, de 32 anos, afirmou que não matou nem feriu ninguém e que o tribunal estava a mandar uma mensagem aos que, no futuro, "se encontrem prestes a fazerem rebentar uma mala de 50 quilos de explosivos num metro ou num autocarro" e que desistam, saibam que "nunca vão ser perdoados". Uma alusão ao seu percurso, visto que ele abandonou o seu colete de explosivos num caixote do lixo na noite de 13 de Novembro de 2015. 

Cinco horas depois do início do interrogatório, uma advogada das vítimas questionou-o sobre o seu “arrependimento”, ao que ele respondeu: “As pessoas que não mataram ninguém, não as podemos condenar como se fossem os líderes do Estado Islâmico, não é possível”. Salah Abdeslam acrescentou que, na prisão e em isolamento, se questionou se "deveria ter activado aquilo": "Será que fiz bem em fazer marcha atrás ou deveria ter ido até ao fim?”

Em declarações à RFI, Arthur Dénouveaux, presidente da associação de vítimas Life For Paris, esse “é um discurso um pouco fácil da parte dele”.

A sua mensagem foi: ‘Eu desisti de matar pessoas e, em troca, vocês vão-me dar prisão perpétua.’ É uma visão um pouco limitada do que ele fez naquela noite, quando ele meteu o colete de explosivos, quase matou pessoas, conduziu kamikazes para matar outras pessoas e é por isso que vai ser condenado. Não é por ter desistido. Por isso, é um discurso um pouco fácil da parte dele, mas é lógico porque ele tem o direito de se defender”, considerou o presidente da associação Life For Paris.

Ainda assim, Arthur Dénouveaux congratula-se que Salah Abdeslam tenha prestado declarações, quebrando todo o silêncio que manteve até ao julgamento.

Tenho um sentimento um pouco misto. É interessante ver que um arguido destes não fica mudo. É interessante ver que fala, ele disse coisas interessantes, vemos a sua linha de defesa que é dizer: ‘Sou 100% Estado Islâmico mas não tenho sangue nas mãos’, o que é discutível quando ele conduziu bombistas suicidas. Também nos deu algumas informações: o seu juramento ao Daesh 48 horas antes dos ataques. Porém, quando é interrogado sobre questões que o poderiam condenar, condenar os outros terroristas e às quais não quer responder, ele foge. Então, é melhor do que o silêncio mas também não é um dia da verdade, como poderíamos esperar.

01:07

Arthur Dénouveaux, presidente da associação de vítimas Life For Paris

No seu depoimento, Salah Abdeslam disse, ainda, que não é "um perigo para a sociedade" e confirmou aquilo que já tinha dito na abertura do julgamento: que se considera "um combatente do Estado Islâmico", mesmo não tendo ido para a Síria.

Sobre o irmão Brahim Abdeslam, um dos bombistas suicidas dessa noite, afirmou que só soube meses depois do seu regresso da Síria que ele tinha lá estado e negou ter visto vídeos de propaganda do Estado Islâmico no café les Béguines que geria com a família.

A mãe, a irmã e a sua ex-namorada eram esperadas hoje para prestar declarações, mas acabaram por não comparecer.

No total, a audiência durou sete horas. 

Este julgamento histórico acontece seis anos depois dos piores ataques terroristas cometidos em França que fizeram 130 mortos e mais de 350 feridos. As audiências começaram a 8 de Setembro do ano passado e prolongam-se até Maio. A longa maratona de quase nove meses vai julgar 20 arguidos, mas apenas 14 estão presentes no julgamento no Palácio da Justiça, na Île de la Cité, em Paris.

Salah Abdeslam é o único elemento ainda vivo dos que perpetraram os ataques dessa noite e  incorre numa pena de prisão perpétua.  A 13 de Novembro de 2015, Salah Abdeslam deixou três bombistas suicidas junto ao Stade de France e depois levou outro bombista suicida, o irmão, ao café Comptoir Voltaire. Salah Abdeslam também tinha um colete de explosivos mas foi encontrado num caixote do lixo. Depois, fugiu para a Bélgica.

Na abertura do julgamento, a 8 de Setembro, Salah Abdeslam apresentou-se como "um combatente do Estado Islâmico". Mais tarde declarou que “o 13 de Novembro era inevitável” por causa da intervenção francesa na Síria e falou em “diálogo” para evitar outros ataques.

No início de Novembro, quando foi interrogado sobre a sua personalidade, falou numa vida "normal”, com alguns furtos, em particular com Abdelhamid Abaaoud, futuro coordenador dos ataques, mas sem se expandir sobre essa amizade. Salah Abdeslam acabou por concordar em se submeter a um exame psiquiátrico que concluiu que é apropriado "eliminar formalmente” a hipótese de “qualquer doença mental" no arguido.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe toda a actualidade internacional fazendo download da aplicação RFI

Partilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual pretende aceder não existe ou já não está disponível.